sexta-feira, maio 22, 2020

«Bem sei que há ilhas lá ao sul de tudo»



in Jornal CRESCER

Comemora-se hoje, dia 22 de maio, o  Dia do Autor Português.

Foi com o propósito de homenagear o autor português e destacar a sua importância no desenvolvimento da cultura e do bem-estar de todos que se criou esta data em 1982. Este dia assinala igualmente o aniversário da Sociedade Portuguesa de Autores.

Simbolicamente, deixamos aqui uma gota de água do oceano imenso da obra de um dos nossos maiores autores.


Bem sei que há ilhas lá ao sul de tudo 
Onde há paisagens que não pode haver. 
Tão belas que são como que o veludo 
Do tecido que o mundo pode ser.

Bem sei. Vegetações olhando o mar, 
Coral, encostas, tudo o que é a vida 
Tornado amor e luz, o que o sonhar 
Dá à imaginação anoitecida.

Bem sei. Vejo isso tudo. 
O mesmo vento 
Que ali agita os ramos em torpor 
Passa de leve por meu pensamento 
E o pensamento julga que é amor.

Sei, sim, é belo, é longe, é impossível, 
Existe, dorme, tem a cor e o fim, 
E, ainda que não haja, é tão visível 
Que é uma parte natural de mim.

Sei tudo, sei, sei tudo. E sei também 
Que não é lá que há isso que lá está. 
Sei qual é a luz que essa paisagem tem 
E qual a rota que nos leva lá.


Fernando Pessoa, Poesia do Eu, ed. de Richard Zenith,
2.ª ed., Lisboa, Assírio & Alvim, 2008







quinta-feira, maio 21, 2020

«Abre um livro. Procura a frase que se parecer mais com uma porta e entra.»





Alguém conseguirá resistir a este delicioso convite?

Muito obrigada, David Machado e Paulo Galindro!




quarta-feira, maio 20, 2020

Dia Mundial da Abelha





"As abelhas e outros polinizadores, como borboletas, morcegos e beija-flores, estão cada vez mais ameaçados pelas atividades humanas, alerta novamente a Organização das Nações Unidas, no Dia Mundial da Abelha, assinalado a 20 de maio.

A maioria das cerca de 30 mil espécies de abelhas contribui para a polinização das plantas. Tal como os outros polinizadores, permitem que muitas plantas, incluindo culturas alimentares, se reproduzam. Assim, contribuem diretamente para a segurança alimentar, são essenciais para a conservação da biodiversidade e também servem como sentinelas para riscos ambientais emergentes, sinalizando a saúde dos ecossistemas locais, alerta a Organização das Nações Unidas (ONU).

Para aumentar a consciência sobre a importância dos polinizadores, as ameaças que enfrentam e a sua contribuição para o desenvolvimento sustentável, a ONU designou 20 de maio como o Dia Mundial da Abelha, data que foi assinalada pela primeira vez em 2018. A data coincide com o aniversário de Anton Jansa, pioneiro em técnicas modernas de apicultura que evidenciaram, no século XVIII, a capacidade de trabalho das abelhas.

Segundo a ONU, os polinizadores não apenas ajudam a garantir a abundância de fruta, nozes e sementes, mas também a sua variedade e qualidade, o que é crucial para a nutrição humana. Além da alimentação, os polinizadores também contribuem diretamente para o desenvolvimento de medicamentos, biocombustíveis, fibras como algodão, linho e materiais de construção.

A polinização é um processo fundamental para os ecossistemas terrestres, para a produção de alimentos e para a subsistência humana. O processo liga diretamente os ecossistemas selvagens aos sistemas de produção agrícola.

A maioria das 25 mil a 30 mil espécies de abelhas são polinizadoras efetivos e juntamente com mariposas, moscas, vespas, besouros e borboletas compõem a maioria das espécies polinizadoras. Há também polinizadores vertebrados, incluindo morcegos, mamíferos não-voadores, como várias espécies de macacos, roedores, lémures, esquilos, beija-flores, algumas espécies de papagaios e outros pássaros.

A compreensão atual da polinização mostra que, embora existam relações específicas entre as plantas e os seus polinizadores, a abundância e a diversidade de polinizadores garante que o processo seja saudável.

Um conjunto diversificado de polinizadores, com diferentes características e respostas às condições ambientais, também é uma das melhores maneiras de minimizar os riscos das mudanças climáticas. A sua diversidade garante que há polinizadores eficazes não apenas para as condições atuais, mas também para as condições futuras. Como resultado da biodiversidade, a resiliência pode, portanto, ser construída em agroecossistemas, explica a ONU."

Fonte: sapo.pt



segunda-feira, maio 18, 2020

«Um Dia de Cada Vez»



"Põe música a tocar e abre as janelas. Isso bastará para que o vento compreenda que o estás a convidar para dançar."


Começou por ser uma parceria digital entre David Machado e Paulo Galindro, que partilhavam no Facebook “sugestões, ideias e instruções para quem está fechado em casa”. Com pequenos textos do primeiro e ilustrações do segundo, o projeto Um Dia de Cada Vez nasceu em tempo de pandemia, para encurtar as distâncias com os leitores e, nas palavras do escritor, “combater esta inércia criativa em que toda a gente pareceu ficar atulhada”.

Apesar do contexto, tanto o vírus como a doença ficam fora da narrativa, não só por uma questão de validade das sugestões mas também para dar ânimo aos dias e espaço ao pensamento de cada um. “Tentei sempre que os textos pudessem ser lidos daqui a cinco ou seis anos, num fim de semana de chuva. São coisas poéticas, à volta da imaginação, são ideias que levam a uma introspeção, que nos põe a refletir sobre o que é estar sozinho, fechado. São ideias que nos apontam mais para a liberdade do pensamento e da imaginação do que propriamente para trabalhos manuais ou bricolagem”, explica David Machado, de cuja pena saíram, por exemplo, O Tubarão na Banheira, Não te Afastes e Índice Médio de Felicidade.

Atendendo às sugestões dos milhares de seguidores da página do Facebook, e depois de um crowdfunding, Um Dia de Cada Vez vai agora ter uma edição em formato físico, num livro de autor com lançamento previsto para finais de Junho. Entre as 32 formas de ocupar o tempo, estão dicas como “Aprende a arte de ficar quieto. Estende-te no tempo e deixa as horas passar por ti”, “Aproveita para restaurar memórias” ou “Sempre que te cansares do silêncio, organiza uma festa e convida todos os teus amigos imaginários”.

Cláudia A. Marques, in Público, 15 de maio de 2020





sábado, maio 09, 2020

VENHAM ENFIM AS ARDENTES AURORAS...



Todos os anos, no Dia da Europa, comemorado a 9 de maio, festeja-se a paz e a unidade do continente europeu. 
Esta importante data assinala o aniversário da histórica «Declaração Schuman». Num discurso proferido em Paris, em 1950, Robert Schuman, o então Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, expôs a sua visão de uma nova forma de cooperação política na Europa.

Hoje, neste Dia da Europa de contornos tão especiais, ocorrem-nos as palavras sem tempo, feitas de luz, de José Saramago:

Venham enfim as altas alegrias,
As ardentes auroras, as noites calmas,
Venha a paz desejada, as harmonias,
E o resgate do fruto, e a flor das almas
Que venham, meu amor, porque estes dias
São de morte cansada,
De raiva e agonias
E nada.”

José Saramago, Provavelmente Alegria, 1970



terça-feira, maio 05, 2020

O PRIMEIRO DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA





Imagem: Pinterest


Celebrou-se hoje, dia 5 de maio, pela primeira vez, o Dia Mundial da Língua Portuguesa. E depois de todas as sonantes e promissoras palavras que por tantos neste dia lhe foram dirigidas, apetece ficar em silêncio e, respeitosamente, ouvir o que Vergílio Ferreira, premiado e notável escritor português, disse, em 1991:

«Uma língua é o lugar donde se vê o mundo, e em que se traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da minha língua vê-se o mar. Na minha língua ouve-se o seu rumor, como da dos outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto. Por isso a voz do mar foi em nós a da nossa inquietação.»