quinta-feira, janeiro 28, 2021

É ISTO UM LIVRO...

 

Fotografia de Matthew Wilson



É então isto um livro,


este, como dizer?, murmúrio,


este rosto virado para dentro de


alguma coisa escura que ainda não existe


que, se uma mão subitamente


inocente a toca,


se abre desamparadamente


como uma boca


falando com a nossa voz?


É isto um livro,


esta espécie de coração (o nosso coração)


dizendo “eu” entre nós e nós?




Manuel António Pina









terça-feira, janeiro 19, 2021

E POR VEZES...




Trabalho realizado pela docente Raquel Sebastião



E por vezes

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos  E por vezes


encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes


ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites   não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos


E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos



David Mourão-Ferreira






quinta-feira, janeiro 07, 2021

DAR VOZ A QUEM ESCREVE




Fotografia de J. A. M.



TEMPOS PARADOS

Saudades dos tempos em que falávamos, passeávamos, vivíamos em descanso, tranquilos. Tempos onde não havia preocupações, tempos felizes.

Hoje, os tempos são diferentes. Os tempos são escuros, silenciosos, preocupantes. Não há falar, passear, viver com os outros, tranquilamente. Existem barreiras físicas, que não nos deixam andar para o futuro. Barreiras que nos deixam preocupados, assustados. Mas, acima de tudo, há obrigações para combater o mal, o mal que nos pôs em silêncio, parados no tempo.

Estas obrigações são uma ponte. São a ponte que nos leva duma floresta sombria para uma pradaria verdejante. Até essa pradaria levamos o cavalo do tempo, para este poder alimentar-se e cavalgar em frente, rumo a um novo futuro.

Ainda não temos ponte, pois nós somos um mero tijolo, uma simples pedra, mas juntos podemos superar o mal, juntos podemos voltar aos tempos felizes, vívidos, claros. Podemos voltar a sorrir, a falar, a passear, podemos voltar a viver no antigamente ou num novo futuro, um futuro diferente, mais claro do que estes tempos parados.

 

G. F. | 9.º A







SALMÃO FUMADO NO DUBAI...

Parece que a sociedade caiu num poço sem fundo e que não há volta a dar…

Querem mostrar ao mundo inteiro o salmão fumado que comeram num hotel de cinco estrelas, pago pelo amigo que ganhou dois bilhetes de avião para o Dubai por ter encontrado um código numa caixa de cereais de “Chocapic”. Têm de mostrar a toda a gente o dia de sol que estava quando foram à praia, como se os outros não conseguissem olhar pela janela. Enfim, acho que já perceberam onde quero chegar…

Eu própria também me sinto muitas vezes agarrada a estas aplicações, apelidadas de “redes sociais”, mas há limites…

Parece que, se deixarem de as usar, algo terrível lhes vai acontecer, para além de ficarem excluídos e de, é claro, perderem a única oportunidade de ver salmão fumado feito no Dubai.

Depois, também existem outros casos, como aquele com que me deparei há alguns dias, de  um vídeo postado a alertar sobre a má utilização e dependência das redes sociais, com comentários de pessoas ignorantes e hipócritas, a concordarem e a darem muita razão ao seu autor.

Às vezes, gostava de ver o que aconteceria se o mundo inteiro passasse um dia sem redes sociais, ou melhor, voltasse ao passado, bem mas bem longe da atualidade. 


E. A. | 9.º A



Sabendo que a CRÓNICA é um tipo de texto que vive do quotidiano, apresentando uma visão pessoal e subjetiva com o objetivo de divertir ou refletir criticamente sobre os mais variados assuntos da vida e comportamentos humanos, não queres tu, agora, ESCREVER A TUA CRÓNICA?