Rapariga com brinco de pérola, Vermeer | POA Estudio |
Quando, no atual contexto de
máscaras e medos, mudanças e distâncias, os alunos são convidados a refletir sobre a
enorme importância de saudavelmente aprendermos todos a “ouvir o olhar” dos outros (apropriando-nos das prodigiosas palavras
de Fernando Pessoa), os resultados são surpreendentes e dignos de registo…
«Uns tempos antes do início das
aulas, corriam rumores de que seria obrigatório o uso de máscara. Diziam que teríamos
de a utilizar sempre, a não ser que estivéssemos a comer…
Questionei-me a mim mesmo sobre
como é que conseguiria ler as expressões faciais dos meus professores, sabendo
que a máscara ocupa a cara toda, menos os olhos.
Estes rumores chegaram à minha
avó que me disse, sábia e tranquilamente, que eu teria de aprender a famosa
técnica de “ouvir o olhar”.»
«Era o primeiro dia de aulas e
tinha entrado uma nova aluna na turma.
Antes de entrar na primeira aula,
tentei falar-lhe, mas ela afastou-se, todas as vezes. Toda a gente parecia
achá-la muito estranha, pois ainda não tinha dirigido uma palavra a ninguém
durante toda a manhã.
Já na hora do almoço, decidi
tentar outra vez. Fui-me sentar ao pé dela, para ver se conseguia arrancar-lhe
alguma coisa.
Depois de me ouvir,
pacientemente, levantou-se e, antes de ir embora, disse-me:
- Em vez de falar, eu prefiro ouvir o olhar.»
«Pois é, meus filhos, não sei se sabem, mas, no longínquo ano de 2020, quando eu tinha apenas 14 anos, houve uma pandemia, a “Covid-19”. Matou milhares de pessoas e, para baixar as probabilidades de infetarmos ou sermos infetados por outros, tínhamos de usar máscara.
No início, foi-me muito difícil entender a expressão das pessoas ou perceber aquilo que diziam, mas habituei-me…
Felizmente, a pandemia trouxe-me algo muito importante: como só podíamos ver os olhos das pessoas, com o tempo, aprendi a ouvir o olhar. E, acreditem, sabermos como as pessoas se sentem, sem que elas tenham de o dizer, é muito vantajoso…»
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