segunda-feira, outubro 26, 2020

Aprender a «Ouvir o Olhar»

 

Rapariga com brinco de pérolaVermeer | POA Estudio


Quando, no atual contexto de máscaras e medos, mudanças e distâncias, os alunos são convidados a refletir sobre a enorme importância de saudavelmente aprendermos todos a “ouvir o olhar” dos outros (apropriando-nos das prodigiosas palavras de Fernando Pessoa), os resultados são surpreendentes e dignos de registo…


 Aqui ficam apenas alguns exemplos, hoje, Dia Internacional das Bibliotecas Escolares, lembrando-nos a todos que estes novos tempos que vivemos nos exigem, cada vez mais, que sejamos bons leitores do mundo.




«Uns tempos antes do início das aulas, corriam rumores de que seria obrigatório o uso de máscara. Diziam que teríamos de a utilizar sempre, a não ser que estivéssemos a comer…

Questionei-me a mim mesmo sobre como é que conseguiria ler as expressões faciais dos meus professores, sabendo que a máscara ocupa a cara toda, menos os olhos.

Estes rumores chegaram à minha avó que me disse, sábia e tranquilamente, que eu teria de aprender a famosa técnica de “ouvir o olhar”.»

 

 


«Era o primeiro dia de aulas e tinha entrado uma nova aluna na turma.

Antes de entrar na primeira aula, tentei falar-lhe, mas ela afastou-se, todas as vezes. Toda a gente parecia achá-la muito estranha, pois ainda não tinha dirigido uma palavra a ninguém durante toda a manhã.

Já na hora do almoço, decidi tentar outra vez. Fui-me sentar ao pé dela, para ver se conseguia arrancar-lhe alguma coisa.

Depois de me ouvir, pacientemente, levantou-se e, antes de ir embora, disse-me:

- Em vez de falar, eu prefiro ouvir o olhar

 

 


«Pois é, meus filhos, não sei se sabem, mas, no longínquo ano de 2020, quando eu tinha apenas 14 anos, houve uma pandemia, a “Covid-19”. Matou milhares de pessoas e, para baixar as probabilidades de infetarmos ou sermos infetados por outros, tínhamos de usar máscara.

No início, foi-me muito difícil entender a expressão das pessoas ou perceber aquilo que diziam, mas habituei-me…

Felizmente, a pandemia trouxe-me algo muito importante: como só podíamos ver os olhos das pessoas, com o tempo, aprendi a ouvir o olhar. E, acreditem, sabermos como as pessoas se sentem, sem que elas tenham de o dizer, é muito vantajoso…»




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