sábado, abril 11, 2020

UMA BENIGNA CADEIA DE CONTÁGIO...



Um grupo de amigos, antigos alunos da Escola Inês de Castro, relembrando a feliz aventura que foi, há dois anos, participar no 1.º Desafio de Escrita Criativa lançado pela Biblioteca, estabeleceu uma “benigna cadeia de contágio” e, generosamente, decidiu, também este ano, lançar mãos à obra.

Com um comovido agradecimento, aqui fica o magnífico contributo dos seus textos.




Jillian Tamaki
Onde há livro, há cor

Estava um dia chuvoso, era uma primavera esquisita. Tudo fechara há várias semanas. 

Uma mulher, desesperada por estar em casa há tanto tempo, decidiu pegar no seu chapéu e livro e foi ler para a rua, foi-se refugiar da própria casa. 

De repente, uma súbita mancha de cor chamou a atenção, captando o bairro inteiro e, num dia cinzento, todos tornaram a rua cheia de cor, com os seus chapéus e livros.


Íris G.





Jillian Tamaki



Sim, estou a ler no meio da rua cinzenta, imunda. Talvez porque este seja o meu escape, enquanto menina ou mulher, ainda não percebi. 



Ler é algo que me esvazia a mente, mas em contrapartida alimenta o espírito. Não interessa o que os outros dizem. Deixa-os falar. Vivi demasiado tempo na escuridão. Agora renasço das cinzas. 



Farei o possível para descobrir o que fui, sou e serei, ao vislumbrar no papel gasto os desejos íntimos de outrem. 

Mariana C.



Silja Götz
Havia uma mulher, forte, de lindos cabelos brancos que a idade lhe trouxera. Margarida, sua neta, que herdara do avô os olhos azulados, pediu-lhe um dia:

  - Avó, podes ler aquela história?



A pobre senhora, triste, explicou-lhe que não conseguia, era analfabeta.

  - Eu ensino-te! – exclamou Margarida.

Estava decidido. 

E a partir daí, assim que saía da escola, pegava na bicicleta e ia, de livro na cesta, ensinar a avó, para que finalmente pudesse ouvir dela a esperada história.

Inês A.




Jean-Honoré Fragonard

Durante anos, a mulher viu no conforto das páginas dos livros uma forma misteriosa e revolucionária de se conectar com o resto do mundo. 

Quando não lhe era permitido falar e participar nas decisões políticas, a mulher emancipou-se muito devido àquilo que escrevia e lia. Ler deu um enorme empurrão a Meta von Salis, Sojouner Truth, Jane Austen, Susan B. Anthony, Elizabeth Clark, entre outras.


A leitura proclamou muitos direitos que hoje as mulheres veem como adquiridos.

Matilde C.




Hulton-Deutsch Collection
Finalmente consegui entrar na biblioteca do meu pai, aquela que esconde milhares de aventuras. Mas senti-me só, rodeada de estantes, livros, páginas e palavras. 
Aquela gruta impunha respeito, chegava mesmo a ser assustadora... 

Eu estava imóvel, extática, como mergulhada num sonho, no meio de livros, fábulas, epopeias…

Descobria aquele que tornou tudo realidade: simples mas complexo. 

Já não estava numa caverna, agora era tudo claro e percetível e eu sabia que já não era uma menina só.

Pedro M.




Jillian Tamaki

Estava só, na escuridão, no meio da tempestade… Onde estava toda a gente? 

O mundo que um dia conheci estava a desmoronar-se e eu ali, impotente, a olhar. Ao longe avisto uma mulher, muito serena, com um pequeno livro.

Disse-me em tom reconfortante que estava à espera do nascer do sol… do começo de um novo dia! Prometeu-me que as pessoas sairiam à rua, tal como da última vez, e que tudo isto não passaria de um sonho...

Ana Margarida P.




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