domingo, fevereiro 28, 2021

HAVEMOS DE IR AO FUTURO...

 

Fotografia de M. Wilson


Havemos de ir ao futuro

Havemos de ir ao futuro

e quando lá chegarmos

hão de estar no sofá os nossos pais

a cuidar dos sonhos que nos deram

Os nossos avós a encher de luzes a árvore de natal

Os nossos filhos, e os filhos deles

espantados e atrevidos como nós

Havemos de ir ao futuro

e quando lá chegarmos

hão de estar todos juntos numa festa à nossa espera

mesmo os amigos que perdemos no caminho

Hão de lá estar todos com balões de várias cores, bolo-rei

e ao fundo da sala um cartaz do tamanho da nossa idade

onde se lê: ainda bem que vieram

Havemos de ir juntos ao futuro

ou se não houver boleia para todos ao mesmo tempo

havemos de nos encontrar lá

Havemos de ir ao futuro e, no futuro,

estará finalmente tudo, como dantes.


Filipa Leal, Vem à quinta-feira, Assírio & Alvim, 2016







segunda-feira, fevereiro 22, 2021

«DIA POÉTICO»


Fotografia de M. Wilson


Que lindo dia

De poesia

Se pôs!

A manhã baça,

O jornal carrancudo,

E, de repente, tudo

Cheio de luz e graça!

 

E que não há milagres!

Há, mas são destes, que não provam nada…

 

É uma pena

Que a nossa alma seja tão pequena.

Ou já esteja ocupada.



Miguel Torga





quarta-feira, fevereiro 17, 2021

UMA PEQUENINA LUZ, Jorge de Sena

 

Uma pequenina luz bruxuleante

não na distância brilhando no extremo da estrada

aqui no meio de nós e a multidão em volta

une toute petite lumière

just a little light

una picolla… em todas as línguas do mundo

uma pequena luz bruxuleante

brilhando incerta mas brilhando

aqui no meio de nós

entre o bafo quente da multidão

a ventania dos cerros e a brisa dos mares

e o sopro azedo dos que a não veem

só a adivinham e raivosamente assopram.

Uma pequena luz

que vacila exata

que bruxuleia firme

que não ilumina apenas brilha.

Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.

Muda como a exatidão como a firmeza

como a justiça.

Brilhando indefetível.

Silenciosa não crepita

não consome não custa dinheiro.

Não é ela que custa dinheiro.

Não aquece também os que de frio se juntam.

Não ilumina também os rostos que se curvam.

Apenas brilha bruxuleia ondeia

indefetível próxima dourada.

Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.

Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.

Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.

Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.

Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:

brilha.

Uma pequenina luz bruxuleante e muda

como a exatidão como a firmeza

como a justiça.

Apenas como elas.

Mas brilha.

Não na distância. Aqui

no meio de nós.

Brilha


Jorge de Sena, Fidelidade (1958)



Ouve AQUI este poema, na maravilhosa voz da atriz Carmen Dolores.






sábado, fevereiro 13, 2021

CONCURSO «HÁ POESIA NA ESCOLA»

 



REGULAMENTO



Alteração do prazo para envio de trabalhos -  26 de fevereiro


Os trabalhos devem ser enviados para:         


beicastro@aecoimbraoeste.pt

                                                                               

                                                          




quinta-feira, fevereiro 11, 2021

E PARA QUE SERVE UM LIVRO QUE NÃO TEM GRAVURAS?...

 




«Alice começava a sentir-se muito cansada por estar sentada no banco, ao lado da irmã, e por não ter nada que fazer. Mais do que uma vez espreitara para o livro que a irmã estava a ler, mas este não tinha gravuras nem conversas… E para que serve um livro que não tem gravuras nem conversas?, pensou Alice.

Tentava chegar à conclusão (com grande esforço, pois o dia quente fazia-a sentir-se muito sonolenta e estúpida) se o prazer de fazer um colar de margaridas a compensaria da maçada de ter de levantar-se e colher as flores, quando, de súbito, um Coelho Branco de olhos rosados passou por ela, a correr.

Não havia nisso nada de muito especial. Nem tão-pouco Alice estranhou ouvir o Coelho dizer para si próprio: «Meu Deus! Meu Deus! Vou chegar tão atrasado!» (Mais tarde, quando pensou nisso ocorreu-lhe que deveria ter-se admirado, mas naquela altura tudo lhe pareceu muito natural.) Mas, no momento em que o Coelho tirou um relógio do bolso do colete, olhou para ele e começou a correr mais depressa. Alice pôs-se em pé de um pulo, pois lembrou-se de que nunca vira um coelho de colete nem de relógio. Ardendo de curiosidade, começou a correr pelo campo, atrás dele, felizmente mesmo a tempo de o ver desaparecer no interior de uma grande toca que havia debaixo da sebe.

No mesmo instante, Alice desceu atrás dele, sem pensar sequer como poderia voltar a sair.»


Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas, Porto Editora, 2019, pp. 9-10.




segunda-feira, fevereiro 08, 2021

LIVROS QUE INSPIRARAM FILMES




Já leste, certamente, alguns destes fantásticos livros. Todos eles (e muitos outros!) estão à tua espera na nossa Biblioteca!


LIVROS QUE INSPIRARAM FILMES. Deixamos aqui os destaques do Plano Nacional de Leitura para o mês de fevereiro.