quinta-feira, fevereiro 11, 2021

E PARA QUE SERVE UM LIVRO QUE NÃO TEM GRAVURAS?...

 




«Alice começava a sentir-se muito cansada por estar sentada no banco, ao lado da irmã, e por não ter nada que fazer. Mais do que uma vez espreitara para o livro que a irmã estava a ler, mas este não tinha gravuras nem conversas… E para que serve um livro que não tem gravuras nem conversas?, pensou Alice.

Tentava chegar à conclusão (com grande esforço, pois o dia quente fazia-a sentir-se muito sonolenta e estúpida) se o prazer de fazer um colar de margaridas a compensaria da maçada de ter de levantar-se e colher as flores, quando, de súbito, um Coelho Branco de olhos rosados passou por ela, a correr.

Não havia nisso nada de muito especial. Nem tão-pouco Alice estranhou ouvir o Coelho dizer para si próprio: «Meu Deus! Meu Deus! Vou chegar tão atrasado!» (Mais tarde, quando pensou nisso ocorreu-lhe que deveria ter-se admirado, mas naquela altura tudo lhe pareceu muito natural.) Mas, no momento em que o Coelho tirou um relógio do bolso do colete, olhou para ele e começou a correr mais depressa. Alice pôs-se em pé de um pulo, pois lembrou-se de que nunca vira um coelho de colete nem de relógio. Ardendo de curiosidade, começou a correr pelo campo, atrás dele, felizmente mesmo a tempo de o ver desaparecer no interior de uma grande toca que havia debaixo da sebe.

No mesmo instante, Alice desceu atrás dele, sem pensar sequer como poderia voltar a sair.»


Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas, Porto Editora, 2019, pp. 9-10.




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