quarta-feira, abril 21, 2021

«88 Palavras para Contar uma História de Coragem» _ II

 




Nestes duros tempos em que o imediato e o "descartável" reinam (não, não estamos a falar só de máscaras...), tornou-se cada vez mais invulgar ver alguém cuidar de um texto, questioná-lo, limá-lo, aperfeiçoá-lo, dedicando- -lhe, em suma, a sua generosidade, o seu tempo e o melhor de si.

Seria por isso imperdoável se não continuássemos a divulgar os textos que nos foram chegando no âmbito do Desafio de Escrita Criativa "88 Palavras para Contar uma História de Coragem".

Aqui ficam, pois, mais alguns belíssimos exemplos.









Vislumbro o infinito
Sinto o sol poente
Exuberante, estou aflito
O vento frio, perdido na mente
Respiro, sozinho estou
Olho em frente, para outro lado vou


Memórias passadas, tempos honrados
Fui herói, vassalo do dever
Arbítrio do destino
Esquivo, sobre todos tem poder
Trouxe-me aqui, onde me abato
Defronte às nuvens sem formato


Salvei os humildes, miseráveis
Nada têm, nem sustento
Seres humanos vulneráveis
Que à base do sofrimento
Trabalham para vis senhores
Que os exploram, aproveitadores


A luz já perto
Expira o peito, desabo
Amanhã não desperto.



A. S. F. | 9.º C















Partiram para mar alto. Mulheres de rosto enlutado, sem saber o destino dos amados filhos e esposos, imploravam que desistissem. Invadida pelo desânimo e desespero, optei por não ir para um último adeus.

Quem parte jamais volta desse abismo matizado de azul e de medo. Jamais voltará a esta praia. Mas, para alívio da dor, volto sempre ao penedo pedindo ao horizonte vazio um desenho de velas latinas.

Naquela tarde, avistei dois dos navios que dali partiram. Aproximei-me da ilusão. Traziam apenas um mapa. Meu filho não voltou. 


R. C. | 9.º A















Já não sabia quem era. Tinha perdido toda a memória de família, tribo, pátria. Estava abandonado naquela ilha inóspita e não sabia porquê.

Andava pelas praias e foi vendo que às vezes no horizonte se avistava uma vela. Era isso! Tinha que subir ao promontório mais alto da ilha, onde poderia ser visto!

E ali esperou, esperou, debaixo daquele sol ardente, perto daquela estúpida árvore que nem sombra dava. Quanto tempo? Já não havia tempo...

E o dia veio! Duas velas! Ali estavam eles! E o futuro também. 



R. S. | Docente de Educação Visual
















Passados quarenta anos, o que restaria da promessa que haviam feito? 
Ainda jovens, prometeram, todos os anos, juntar-se naquele mesmo rio e desfrutarem de um dia rodeados pela natureza.

Passaram quarenta anos e não houve um só em que não respeitassem a promessa. Mas, desta vez, tudo aparentava ser diferente, ambos sentiam que podia ser a última vez que se viam ou viam o rio ou o pequeno urso, que sempre os visitava. 

Nenhum deles se queria despedir, preferindo a ousadia de desfrutar de uns últimos momentos juntos.


J. A. M. | 9.º A














Maria olhava para o mar sem fim, enquanto as ondas rebentavam violentamente na areia. Toda a vida assim foi… Ali esperava o retorno de Ernesto, que se fizera à faina. Sempre aflita, temendo que o mar lho levasse. Desde que, há meses, o “Amor de Mãe” virou nas ondas revoltas e três bravos se enlearam nas redes, Maria não parava sabendo-o ali, perdido naquela imensidão… Ernesto salvara--se, então, arrastando para a praia o Xavier e o Zé da Aurora. E apenas dois dias volvidos fez-se, novamente, ao mar.


L. R. | Docente de Português e de História















São horas a fio refletindo sobre a mesma questão: de que modo viemos aqui parar?

Horas a fio, aquelas em que, por breves momentos, nos tranquilizamos pela bravura de quem sobreviveu.
Reuniões, atualizações, dúvidas… São horas a fio, à espera de um final.
Porventura um dia, daqui a uns anos, os nossos heróis poderão ter uma boa noite de sono. (Que absurdo, dito assim!...)
Queremos todos evitar o medo, o abismo do tempo... Ter quem espere por nós no final e nos revele que amanhã poderemos finalmente despertar.



L. O. | 9.º A













O mundo não vai parar
 

Existem dois tipos de realidade, uma perfeita, outra imperfeita, uma existe, a outra não.
De qualquer forma, o modo de pensar nestes mundos é variável...

Esta história é de todos, pois todos temos bons pensamentos. E todos temos o mesmo dia para esperar que o vírus se vá embora e nos devolva a liberdade. Neste momento, resta-nos esperar e lembrar aqueles belos dias na praia quando sonhamos e vemos barcos na linha do horizonte. 

Mas importa lembrarmo-nos sempre: o mundo não vai parar!


M. M. | 5.º D














De um monte, ao lado de um sobreiro, todos os verões uma mulher admirava ao pôr do sol a partida dos batéis. Fora ali que o seu marido se despedira e fizera uma promessa antes de partir:

“ - Prometo que voltarei antes de este sobreiro espessar e afundar raízes.”

Porém, naquele verão, veio a hora de, desassombradamente, deixar ir a promessa e dura memória que o sobreiro alimentara durante tantos anos, e superar a perda.

Desbastou o sobreiro e persistiu na sua vida, não retornando mais àquele monte saudoso.


L. M. | 9.º A

















Há demasiado tempo que estava sozinho, que uma turva e sombria neblina lhe toldava a visão além do arrependimento. Há demasiado tempo que era atormentado pelas sombras que só ele via e nenhum outro ser se empenhava sequer em ouvir, que esperava pela mão que o puxaria para fora do seu mundo feito de sentimentos que o não deixavam dormir. 

No fim, o medo e o desespero rendiam-se a uma sinistra ordem. 

No fim, a bravura partia, abandonando-o, sem dó, independente da sua forte vontade de eternamente lutar.


E. A. | 9.º A















A Volta


A manhã estava tranquila. O sol quente de verão queimava o rosto daquela mulher que, ansiosamente, esperava o marido na volta dos Estados Unidos, no enorme navio que tardava.

As horas passaram e a noite vinha leve, iluminada pela lua redonda e brilhante, que brotou de mansinho no horizonte.

Por fim, o som da buzina do navio mal se ouvia, abafado pelo barulho das ondas do mar.

O navio aportou e de lá saíram muitas pessoas, apressadas. Afetos e beijos para todos, beijos que mataram saudades!


L. M. | 5.º D















Era uma vez um mundo que foi invadido por um vírus. O mundo tornou-se doente e os seus habitantes tiveram medo. Para sobreviverem tiveram que se isolar e mudar a sua maneira de viver. Foram tempos de enorme tristeza. Não sabiam bem o que fazer…

Nesta luta infernal, os soldados usavam bata. Não estavam preparados, mas não desistiram, mesmo quando estavam exaustos, mesmo quando se perderam tantas vidas.

A sua bravura salvou o mundo e a humanidade passou a dar mais valor ao que realmente importa na vida.


D. C. | 9.º A

















Sem comentários:

Enviar um comentário