E DAS IMAGENS NASCERAM TEXTOS...
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Toni Demuro |
Irreal, o rosto do nosso mundo apresenta hoje contornos que nenhum de
nós reconhece...
Mais do que nunca, nestes inimagináveis e tão difíceis tempos de
distanciamento obrigatório, é fundamental que nos sintamos ligados
pelas palavras que lemos e escrevemos, pelas emoções que
experimentamos e com os outros procuramos partilhar.
Aqui ficam, pois, alguns dos belíssimos textos que, ao longo dos
últimos dias, nos têm chegado, no âmbito do Desafio de Escrita
Criativa que lançámos.
A Carolina R., aluna do 5.º ano, logo que entrou na Biblioteca e, cheia de curiosidade, atentamente observou a exposição «Mulheres que Leem», escolheu a imagem que mais lhe agradava e começou a escrever o seu texto de 77 palavras.
Foi a primeira aluna a participar no nosso Desafio!
Foi a primeira aluna a participar no nosso Desafio!
Eis a sua imagem favorita:
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Alexander Deineka, Woman Reading, 1934 |
E aqui fica o seu belo texto:
A mulher que lia
Havia uma mulher que estava a tomar café, quando subitamente se lembrou de algo muito importante. Ela precisava do seu livro, pois não conseguia sobreviver sem ele.
Num salto, pegou na sua aventura e começou a ler. No seu livro havia um tema: poemas de amor.
E começou a escolher:
«De perto conheço o amor,
De longe conheço a bondade
Hoje conheço-te
E amanhã digo-te a verdade.»
Era isto que a mulher lia!
Após uma observação atenta da exposição «Mulheres que Leem», o Guilherme F. decidiu que o seu texto nasceria da seguinte imagem:
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Will Barnet, Woman Reading, 1970 |
Vejamos o fantástico resultado:
«Ah, ainda me lembro dos dias em que íamos os dois ao jardim passear durante a tarde. Ela gostava de ficar em frente ao lago a ver os patos nadar, e eu de me esticar.
Mas aquela mulher, depois, arranjou uma coisa feita de folhas e de couro a que chamam livro e... esqueceu-se.
Mas aquela mulher, depois, arranjou uma coisa feita de folhas e de couro a que chamam livro e... esqueceu-se.
Todas as noites se deitava a "ler", segundo dizem, e esqueceu-me de vez, um gato que nunca fugiu e a consolou quando precisava.»
Determinadíssimo, por sua vez, o David C. escolheu esta imagem:
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René Magritte, La Lectrice Soumise, 1928 |
Eis o seu surpreendente e tão oportuno texto:
«Lá estava ela, à porta do seu trabalho. Acabara mais cedo os seus afazeres, por isso ocupara o seu tempo a ler um livro.
Estava a ler um livro de história. Não era uma história qualquer, era uma história de terror. 0 conto tratava de um acontecimento histórico que acontecera há muito tempo: uma pandemia por coronavírus.
A mulher interessava-se por acontecimentos antigos. Mas quando descobriu a origem da doença, percebeu que o ser humano é terrível.»
Os alunos André C. e Matilde R. interessaram-se pela mesma imagem:
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Roman Zaslonof, Endormie |
Vejamos o inspirado texto do André C.:
«Minha amada, porquê quebrar o tabu, nesta terra abominável e insensível?
Leste o livro proibido e acabaste num sono profundo...
A mulher por quem me apaixonei, sempre meiga, corajosa, para o povo salvar, leu o proibido e acabou por não acordar.
A mulher por quem me apaixonei, sempre meiga, corajosa, para o povo salvar, leu o proibido e acabou por não acordar.
Minha flor, o teu sorriso, o fogo do teu olhar nunca mais me conseguirão sossegar, nem o teu cheiro a tulipa, teu cabelo cor das madeiras mais claras de um lugar onde só tu podes estar.»
E o não menos belo texto da Matilde R.:
«Julguei-te, mal te vi, sem compaixão. Parecias um simples mortal…
Nem me dei conta da tua alma presente na minha. Só percebi quando acordei nos teus olhos a sinceridade e paixão que sentias por mim. Era ainda muito inocente para declarar que estava apaixonada por um ser que, antes, me parecia desprezável… Mas eu amava-te!
Foi quando acordei e me apercebi de que tudo não passara de um simples sonho. Um sonho com uma mulher a ler...»
A Lara O. e o Santiago G. inspiraram-se nesta bela e sugestiva imagem:
E dela nasceu o magnífico texto da Lara O.:
«Vejo uma simples árvore elevar-se do chão, repleta de saber. Toda ela feita de uma intensa paixão obscura.
Olho profundamente o negro da imagem e entendo que, na vida, se não tivermos a oportunidade de realizar grandes coisas, podemos realizar pequenas coisas de forma grandiosa.
Assim como esta simples mulher que, no meio da solidão do seu livro e da sua alma que lê, dá vida ao jovem rebento que da seiva da árvore do saber nasceu.»
E o inspirador texto do Santiago G.:
Nem me dei conta da tua alma presente na minha. Só percebi quando acordei nos teus olhos a sinceridade e paixão que sentias por mim. Era ainda muito inocente para declarar que estava apaixonada por um ser que, antes, me parecia desprezável… Mas eu amava-te!
Foi quando acordei e me apercebi de que tudo não passara de um simples sonho. Um sonho com uma mulher a ler...»
A Lara O. e o Santiago G. inspiraram-se nesta bela e sugestiva imagem:
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Toni Demuro |
E dela nasceu o magnífico texto da Lara O.:
«Vejo uma simples árvore elevar-se do chão, repleta de saber. Toda ela feita de uma intensa paixão obscura.
Olho profundamente o negro da imagem e entendo que, na vida, se não tivermos a oportunidade de realizar grandes coisas, podemos realizar pequenas coisas de forma grandiosa.
Assim como esta simples mulher que, no meio da solidão do seu livro e da sua alma que lê, dá vida ao jovem rebento que da seiva da árvore do saber nasceu.»
E o inspirador texto do Santiago G.:
«Era uma vez uma mulher.
Ela lia muitas vezes com a filha. Para lerem sossegadamente, subiam a uma árvore do parque.
Um dia, decidiram interditar o parque às mulheres (antigamente, havia uma enorme desigualdade de género...). Ainda assim, elas entraram. Foram encontradas e cruelmente castigadas, sendo separadas mãe e filha. Essa menina, passados vinte anos, revoltou-se, e é por causa dela que hoje as mulheres são quase iguais aos homens.
A desigualdade de género tem de acabar.»
Ela lia muitas vezes com a filha. Para lerem sossegadamente, subiam a uma árvore do parque.
Um dia, decidiram interditar o parque às mulheres (antigamente, havia uma enorme desigualdade de género...). Ainda assim, elas entraram. Foram encontradas e cruelmente castigadas, sendo separadas mãe e filha. Essa menina, passados vinte anos, revoltou-se, e é por causa dela que hoje as mulheres são quase iguais aos homens.
A desigualdade de género tem de acabar.»
A preferência do Gabriel C. foi para uma imagem bem diferente:
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Jessie Willcox Smith,A Child's Garden of Verses, 1905 |
«A casa estava caótica, o pai e a mãe não paravam de discutir e a filha, coitada, assistia, cheia de medo.
Quando as discussões finalmente acabaram, a menina continuava aterrorizada, não sabendo o que fazer para se esquecer. Procurou uma distração, mas só encontrou um livro. Não queria ler, pois detestava fazer isso, mas, como não havia mais nada, leu o livro.
Adorou e, numa questão de segundos, esquecera-se do acontecimento. E assim voltou a ficar feliz.»
Quando as discussões finalmente acabaram, a menina continuava aterrorizada, não sabendo o que fazer para se esquecer. Procurou uma distração, mas só encontrou um livro. Não queria ler, pois detestava fazer isso, mas, como não havia mais nada, leu o livro.
Adorou e, numa questão de segundos, esquecera-se do acontecimento. E assim voltou a ficar feliz.»
Já a Cíntia M. foi beber a sua fantástica inspiração a esta imagem:
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Hulton-Deutsch Collection, Uma rapariga mergulhada num livro a um canto da livraria Foyles |
Perdida à procura de conhecimento,
fui engolida pela onda da leitura,
e encaminhada
até à ilha da poesia, da prosa, da aventura.
Onde os livros são as estrelas que me iluminam
e a poesia dá luz aos meus dias.
Na floresta tropical das letras,
viajo pelos contos, pela imaginação,
nesta viagem ao infinito em que me encontro,
tomo rumo à imensidão da sabedoria.
Na onda em que regresso à realidade,
entrego-me às águas como uma mulher apaixonada.
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